Ela pediu - ah, e como pediu - para que não precisasse por aquilo. É que, como todo começo mal contado, ela ainda acreditava que existiria saída, ainda achava que poderia correr do destino que se apresentava à sua frente, que num piscar de olhos acordaria na cama sozinha. E dane-se que aquilo tudo tivesse sido apenas um sonho, mas o que ela mais queria era não sentir o que o peito sussurrava no escuro do quarto enquanto lia uma mensagem dele.
Fechou os olhos e não quis acreditar. Olhou pro lado, viu que o despertador já estava armado e fez as contas de quantas horas de não-descanso teria até que o bip-bip a trouxesse de volta à realidade. E se dormisse conseguindo enxergar um lado com naquilo tudo? Não tinha, concluiu. Sabia que a estrada poderia ser boa em alguns trechos, mas as sinuosas descidas e subidas, inevitavelmente, acabaria dando em uma colisão frontal com a decepção.
Afinal, as pessoas são pré-programadas para nos decepcionar.
Não pôde ouvir mais nada. Nem sabe de onde veio, mas o sono a abarcou e ela dormiu. Acabou tendo as mesmas visões da noite passada. Estava com ele, seu novo rolo, romance, caso ou qualquer outro rótulo que as pessoas colocam em ocasiões assim. Via no rosto dele (e sabia o quanto isso é difícil hoje em dia) uma vontade de dar um passo a mais. Nem que esse passo fosse um simples assumir na frente de amigos que estavam juntos. Namorando? Longe disso.
Se esconder não era preciso. Falar em correr das vistas dos outros parece querer tratar o encontro como um erro, o que não tinha sido. Apesar de algumas histórias que já tinha ouvido dele, as saídas se mostravam uma fuga da rotina de mentes vazias em corpos interessantes que vinha provando. Ela não devia nada a ninguém. Ele dizia o mesmo. Apenas aproveitavam o fato de poderem se ver sem ter que passar pelo olhar de outros.
Quem se importa com a opinião dos outros?
Foi exatamente com essa pergunta retórica que ela acordou. Passou a mão no celular e logo já via uma mensagem de bom dia e um agradecimento pela noite anterior. Seu coração ainda um tanto sonolento, despertou na hora e ela não teve como fingir que não ouviu. Por mais que tivesse pedido, por mais que tivesse se policiado para não cair naquela situação novamente, não teve escapatória.
Estava apaixonada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário